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DISCURSO CALCULADO

Diva Freitas

23 de junho de 2021

Eurico durante eleições no Vasco, em 2017. Marcelo Cortes/ Fotoarena/ Folhapress

fala explosiva, o comportamento agressivo e a constante ofensiva eram gestos propositais de Eurico Miranda, que usou esses elementos para construir sua imagem na mídia e tirar dela benefícios para o Vasco da Gama, afirmou o ex-vice-presidente de basquete do clube, Fernando Lima. Para ex-dirigentes que, como Fernando, conviveram com Eurico, esse comportamento calculado criou os alicerces para o "euriquismo", uma corrente que não acabou com a morte de seu inventor. 

- Muita das coisas que o Eurico fez foi caso pensado, uma forma de promoção. Uma vez eu fui em uma mesa redonda, onde estava ele e o Michel Assef. Os dois juntos era uma confusão, parecia que ia acontecer uma briga. Quando acabou, o Eurico me chamou para ir a uma churrascaria e para minha surpresa, ele também convidou o Assef. E lá os dois riram de todo o cenário que criaram, foi uma grande promoção do jogo - relembra o ex-vice-presidente.

Apesar de todas as discussões envolvendo o nome de Eurico Miranda, aqueles que conviveram próximo a ele - e comungavam das mesmas visões - puderam conhecer o outro lado do dirigente. Pacífico, visionário, solidário e apaixonado pela família, características associadas a ele pela trajetória heróica, segundo os Euriquistas.

O Colégio Vasco da Gama é a materialização da via solidária de Eurico. É o que afirma um dos beneméritos do clube, João Carlos Nóbrega. “Uma pessoa, talvez vinculada aos piores momentos do futebol vai e cria um colégio? Como alguém com aquela imagem tão truculenta é capaz de ter uma ideia dessa e abraçar o que ele abraçava? Era o projeto que mais ele gostava, era o orgulho dele - afirma, Nóbrega. A ação social com as crianças era estruturada para que elas estudassem e tivessem na rotina treinos, seja de futebol ou de esporte olímpico, como remo e basquete.

Outra contribuição positiva que Eurico trouxe para o Clube cruzmaltino, unanime entre os apoiadores e os adversários foi a rivalidade cultivada com o Flamengo. A estratégia de divulgação do Vasco no Rio de Janeiro funcionou e deu certo, de acordo com o Fernando Lima.

- Ele tinha na ideia de que a imprensa sempre falava do Fla-Flu, mas o verdadeiro rival do Flamengo é o Vasco. A partir disso ele começou a pressionar o Flamengo. Quando o Vasco foi para a final contra o Real Madri, a torcida do criou a Fla Madri, aí ele me disse: ‘Pronto, Fernando, agora eles engoliram o apelo, agora vão assumir que o rival era o Vasco, nada de Fla-Flu – disse Lima.

O legado de Eurico para o Vasco passa por uma contribuição significativa para os bons momentos do clube ao mesmo tempo que divide a imagem do time, que consequentemente se polariza entre os que amam o presidente na época e os que se opõe ferrenhamente. Das memórias frutuosas que o Eurico proporcionou, a parceria com Bank of America trouxe uma nova estrutura para todo o clube, uma ligação nunca feita, que envolveu jogos olímpicos, apesar de não ter dado certo durante o processo.

 

Visionário, Eurico trouxe para perto do Vasco os esportes olímpicos com mais incentivo e visibilidade porque ele acreditava que essa aproximação renderia consequências positivas também para o futebol, o clube como um todo seria beneficiado.

- Antes de vir o projeto, a ideia veio do Eurico. Porque ele tinha uma percepção de que trazendo vários esportes olímpicos, o Vasco resgataria a torcida na zona sul, onde tinha minoria se comparado aos demais clubes. Era difícil entrar ali (zona sul), mas o Eurico achou essa maneira e realmente, nossa torcida só cresceu - afirma Fernando Lima.

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"Vasco e Flamengo é um campeonato à parte"

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"Não sei se tenho maior prazer numa relação sexual ou se quando ganhamos do Flamengo"

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"Foi um resultado normal. Anormal é quando o Flamengo vence o clássico"

Após a goleada do Vasco por 5 a 1 sobre o Flamengo em 2001

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Caso São Caetano

 

Uma das grandes imagens que marcam a trajetória do Eurico é o caso São Caetano, quando em um jogo entre Vasco e São Caetano uma avalanche humana caiu no gramado. Nenhuma morte, mas 160 feridos. Eurico foi muito criticado por querer seguir com o jogo, mas ele teria um motivo. Fernando Lima afirma que havia uma guerra interna entre o ex-presidente e a Rede Globo anterior ao jogo, porque queriam acabar com o Campeonato Estadual e seguirem apenas com o Campeonato Brasileiro. Segundo Lima, essa disputa teve o ápice em dezembro 2000, na decisão contra o São Caetano, onde Eurico teria sofrido uma covardia.

- Todo jogo tinha gente que queria ficar perto de uma torcida do Vasco, que é a força jovem, é a torcida mais fervorosa.  No dia desse jogo apareceu um cidadão que sacou uma arma no meio das pessoas e aí começou a confusão e a grade não aguentou. A acentuação da grade era por dentro, isso ajudou para não termos mortos, pessoas amassadas. Eu entrei no campo, vi as pessoas, sofreram apenas escoriações, não teve nada grave. O maior problema foi que naquele dia, o horário do jogo, que era o mesmo do último capítulo da novela das sete, da Globo, com anunciantes caríssimos. Ou seja, quando Eurico viu que iam paralisar o jogo, sabia que era por isso.

Foram quatorze os torcedores que pediram na Justiça indenização ao Clube pelos ferimentos causados com a queda do alambrado. Com cerca de 160 feridos, Eurico precisou enfrentar além dos processos as críticas por tentar reiniciar o jogo, que com o acidente foi adiado para janeiro de janeiro de 2001.

 

O ex-VP afirma ainda que a ordem de interromper o jogo foi da Rede Globo. - Foi a Globo que pediu para o Garotinho intervir. Aí começa uma perseguição que nunca existiu antes. No dia do aniversário dele, na Globo, se eu não me engano Jornal Nacional, usaram quase 15 minutos só de acusações ao Eurico. Esperar o dia do aniversário dele para fazer isso é covardia. Ele ficou chateado demais.

Foto: Jorge Araújo/ Folhapress

Relembre frases marcantes de Eurico Miranda. Vídeo: LANCE

Eurico invade o campo, em 1999. Vídeo: Globoesporte

Euriquismo ontem e hoje

O Vasco passou por outra administração quando Eurico saiu, a de Roberto Dinamite. Procurado para uma entrevista ele se recusou. A rivalidade entre os dois guiou muito do que se conhece hoje como o Euriquismo, movimento de apoio ao ex-presidente, que tinha maneiras próprias de liderar. Ainda que o cenário geral no futebol carioca fosse contra o Eurico em suas falas rudes, havia uma grande parcela de torcedores e beneméritos que se afeiçoaram por ele, em especial por ele tentar resgatar a tradição do clube. Reavivar os tempos de glória do time.

- O Euriquismo foi uma coisa fantasiosa criada para poder bater nas pessoas. Foi a segurança de quem apoiavam um lado que foi muito difícil de apoiar: o do Eurico. A gente esteve disposto a sofrer por isso. O Euriquismo nada mais é do que uma Filosofia de Vasco, que o enxerga tradicional, porque é vinculado a questão da colônia e a questão da família. Por mais que se queira torná-lo mais moderno, o Vasco tem raiz. Isso é muito complicado. Era uma linha de pensamento muito defendida pela Eurico. Entender o Vasco como um todo tradicional vinculado ao seu passado, que tenha orgulho da sua história e que para crescer e evoluir e se tornar algo mais moderno não pode se desvincular disso - afirma Nóbrega.

Questionado sobre o Euriquismo hoje, Lima já direciona para outro lado, de que não há mais. “O Euriquismo hoje está totalmente rachado, não existe uma coesão. Alguns estão parados, assim como eu. Euriquismo sem o Eurico não existe.”

Nóbrega relembra, ainda, que há uma certa confusão quando se fala em Euriquismo ou na representatividade dele para o Vasco. Não há, segundo ele, um clube diferente antes e depois do Eurico. O que há é que Miranda chegou num momento propício para o Vasco.

 

- O clube viveu o Expresso da Vitória momento muito marcante no início da trajetória, com muitas conquistas na segunda metade dos anos 40. Sei disso por causa do meu pai e do meu avô que viveram essa fase. Em seguida, tem um declínio muito grande até meados dos anos setenta oitenta e depois ele começa a se recuperar, aí surge o Eurico, que chega no momento exato em que pôde contribuir para o levante do Vasco.

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