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A DIFICIL RELACAO COM A IMPRENSA

Durante seus 74 anos de vida, Eurico colecionou desafetos ao barra e maltratar jornalistas

'Ele interrompia na hora, antes mesmo da formulação da pergunta e abalava o jornalista', conta Bruno Marinho, setorista do Vasco no início da carreira

Marinne Quintas

23 de junho de 2021

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Eurico em entrevista coletiva. Paulo Fernandes/Vasco.com.br

O jornalista e radialista Maurício Menezes ia pegar o carro, que estava próximo ao de Eurico Miranda no estacionamento do Vasco da Gama, quando foi abordado pelo cartola com provocações. “Jornalista vai ficar na chuva, jornalista da Globo não entra na minha posse”, gritava o dirigente. Maurício, na época funcionário da Rádio Globo, perguntou aos risos a Eurico se o jornal O GLOBO deixaria de vender exemplar por causa da barração e disse que o cartola seria o maior prejudicado pela atitude.

- Vocês estão vendo? É assim que precisam falar comigo - reagiu Eurico, apontando o dedo em direção a Maurício e olhando para os demais presentes.

- Ele será o único jornalista convidado para a minha posse - encerrou.

Inteligente, culto e cordial em certas ocasiões, mas na maioria das vezes, uma pessoa grosseira, que só respeitava quem o tratasse na mesma moeda. É assim que a imprensa esportiva carioca via Eurico Miranda. Esta relação de amor e ódio entre o ex-presidente do Vasco e os jornalistas produziu manchetes polêmicas, envolvendo o nome do cartola.  “Cerceamento à liberdade de imprensa: Lance! é proibido por gestão de Eurico Miranda no Vasco”, “Eurico Miranda ataca a imprensa durante coletiva”, Eurico diz que protesto contra ele foi dirigido e ataca imprensa e ídolos” foram algumas delas.

Por trás das brigas e discussões, restaram as lembranças, que hoje arrancam risadas de quem viveu algumas delas, como o episódio envolvendo Maurício Menezes. Nem sempre, porém, as discussões acabavam de uma maneira leve, como em 2004, após a final do Campeonato Carioca contra o Flamengo. Antes da partida, durante a coletiva de imprensa, Eurico disse que já havia encomendado 30 mil litros de chope para a comemoração do título. Após a derrota do Vasco, o jornalista Carlos Monteiro perguntou ao dirigente o que ele faria com o chope, o que foi suficiente para que Eurico agredisse o repórter.

O cartola foi condenado a seis meses de prisão, sendo convertida em pena pecuniária de R$12.000,00 a serem pagos para a vítima, o jornalista Carlos Monteiro.

 

Após colecionar tantos desafetos e respostas antipáticas ao longo da vida, Eurico Miranda fazia com que muitos jornalistas tivessem receio de fazer perguntas. O jornalista Bruno Marinho, que, no início da carreira, foi setorista do Vasco, contou que o ex-presidente do cruzmaltino abalava propositalmente os repórteres.

- Fui setorista do Vasco no início da carreira e certamente houve tempos que me intimidei também. O Eurico levantava a voz quando achava necessário. Ele tinha uma certa truculência, era uma pessoa com o raciocínio muito rápido. Então, ele interrompia na hora, antes mesmo da formulação da pergunta e abalava o jornalista.

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As coletivas eram sempre recheadas de polêmicas, principalmente quando o assunto era Flamengo. Um prato cheio para os jornalistas presentes. A paixão de Eurico pelo Vasco era nítida. Foram 52 anos vivendo pelo clube, mas algumas falas provavam que a repulsa pelo rubro negro carioca ultrapassava o carinho pelo seu próprio time. Maurício Menezes relembra um episódio que aconteceu ao vivo.

- Na TV, ao vivo, eu perguntei 'O Vasco vai jogar com o Fluminense. Se ganhar é campeão do Brasil e livra o Flamengo do rebaixamento...' e ele respondeu: Eu torço contra o Vasco. Eurico já foi brigar comigo na Globo, mas no final da vida me disse que eu era o único flamenguista que ele gostava.

Uma figura de presença forte, Eurico foi assim até o final da vida. Entre títulos e derrotas, amizades e desafetos, o ex-presidente do Vasco nunca mudou sua postura diante das câmeras. Com um charuto sempre presente, ele foi personagem principal de muitas matérias. Bruno Marinho diz que ele se vendia como uma figura muito poderosa, mas que durante a vida, já não existia todo esse poder.

- Eu acho que o Eurico era uma figura de um futebol que não existe mais. Ele construiu uma reputação e tentava influenciar os meios de comunicação de uma forma que o meio não aceitava mais. Ele se vendia como uma figura muito poderosa, e com o tempo esse poder se diluiu e ele continuava nessa mesma estratégia. Se construiu de uma maneira impositiva de combate, e talvez não percebeu que com o passar do tempo devia ter construído outras maneiras de se impor. Acabou se tornando aquilo que a gente via nas coletivas.

Eurico no jogo contra o São Caetano, em 2000. Ana Carolina Fernandes/Folhapress

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