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A FAMILIA

Dirigente vascaíno separava tempo para  montar quebra-cabeças com os netos, diz filho

Apesar de viver o Vasco intensamente, Eurico Miranda era uma figura paternal forte e um avô muito presente.

Monique Guimarães

23 de junho de 2021

Eurico junto de seus netos: cartola conciliava vida familiar com a efervescência do Vasco. Foto: Casaca 

Eurico Ângelo de Oliveira Miranda, mais conhecido como Eurico Miranda, tinha um grande cuidado quando o assunto se tratava sobre a família. O homem que colocou o Vasco da Gama entre os grandes clubes do Rio, muito pelo perfil brigador e articulado, era um avô que se sentava ao redor dos netos para montar quebra-cabeças. O temperamento explosivo, exposto no mundo do futebol, não era presente no ceio familiar do cartola. Segundo João Carlos Nóbrega, ex-assessor de Eurico Miranda, ele era o homem de resolver todos os problemas da família, mas ao mesmo tempo, tinha uma distância forçada em função do Vasco.  

- Ele era um cara apegadíssimo a família e todas as tradições que você possa imaginar de uma família patriarcal. Sempre quando questionado sobre a família, principalmente dos netos, Eurico falava com muita admiração e zelo. Acho que esse acabou sendo um conflito na vida dele - destacou João Carlos Nóbrega. - Durante discursos dentro do cruzmaltino, Eurico sempre dizia que tinha uma dívida com relação a impossibilidade de estar com a família.

Filho de portugueses que imigraram para o Brasil, assim como a maioria da colônia lusitana no Rio, a família era vascaína. O autor do livro “Eurico Miranda: todos contra ele”, Sérgio Frias, ressaltou que muito motivado pela mãe, Eurico começou de fato a ter uma relação grande com o futebol.

 

- Quando vem para o país, a mãe leva ele pela primeira vez em um jogo do Vasco, e ele começa a se tornar um torcedor apaixonado pelo clube desde criança - disse Frias.

Os filhos de Eurico sempre tiveram alguma ligação com o Vasco. Apesar disso, ele nunca impôs uma sucessão para o cargo de presidente do clube. Mário Ângelo, seu filho primogênito, durante um ano foi superintendente de esporte amador do Vasco, mas abandonou o futebol para se dedicar à carreira acadêmica.

 

- A minha participação (no Vasco) tem muito a ver com essa linha entre ganhar e perder. Quando o ganhar deixa de ser uma alegria e se transforma em um alívio, aí fica complicado. Eu cheguei e falei para o meu pai que isso me deixava nervoso e tenso. Então ele disse: filho, pode ir para casa - lembrou Mário Ângelo, filho do cartola.

Além de Mário, o cartola ainda teve Eurico Ângelo Brandão de Oliveira Miranda, o Euriquinho, que é envolvido com o Vasco. O terceiro filho, Álvaro Ângelo, que também já fez parte do clube, embora raramente fosse ao gabinete, e a caçula, Sylvia Alexandra, de 28 anos, que é atriz. A família ainda tinha a presença de Sylvia Miranda, com quem Eurico foi casado a vida toda, desde 1977. Em viagens com a família para Angra dos Reis, onde tinha uma casa de veraneio, o ex-presidente do clube cruzmaltino não era de falar muito, mas procurava interagir com os netos. Mário ressaltou que o pai gostava de duas coisas: ficar em casa e Vasco. Quando questionado sobre seu relacionamento com a figura paterna, ele disse que não tinha muito diálogo, porque ele era mais sucinto com os filhos.

- Eu sempre ficava com receio de falar com meu pai, mas ele sempre dizia sim. Meu pai sempre deu apoio as minhas decisões. Sobre nossa presença no Vasco, ele de alguma maneira achava que o ambiente podia ser pesado para nós. Então, ele tinha uma postura de abraçar. Já com os netos, meu pai tinha uma relação mais bacana. Ele resolvia todos os problemas da família, todos. Meu pai era um cara de resolver as coisas, do jeito dele, mas resolvia. Era um homem de ação - destacou o professor de história.

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O dirigente com os seus três filhos. Foto: Acervo da família

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Eurico e Euriquinho, em 2017. Foto: Rafael Moraes /Agência O Globo 

União Brasil-Portugal

perfil patriarcal foi muito influenciado pelos pais, Álvaro e Alexandra, que deixaram Arouca, ao norte de Portugal, na década de 30, fugindo da ditadura salazarista. No Rio, moraram primeiro no subúrbio de Brás de Pina e, depois, na Urca, onde abriram a Padaria Miranda. Aos 13 anos, o menino Eurico ajudava o pai no balcão e, na eventual ausência de um funcionário, entregava os pães, de bicicleta, ao amanhecer. Como seus irmãos Álvaro e José Alberto, ele estudou no Santo Inácio, colégio jesuíta tradicional. Cursou os últimos anos no Andrews, outra escola de renome.

Aos 17, passou no vestibular de medicina da Faculdade Nacional (ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ), mas preferiu mudar para o curso de fisioterapia, profissão que exerceu durante dois anos. Descontente com a profissão, voltou à mesma universidade, dessa vez para cursar direito. Aos 21 anos, conseguiu o primeiro emprego no Vasco, como supervisor do departamento de cadastros.

No Vasco da Gama, Miranda costumava se vestir com sapato de couro, calça de linho e camisa de botão com a gola aberta e as mangas dobradas. A roupa era escolhida e colocada em cima da cama por Sylvia. Durante trinta anos, ele fumou cinco maços diários de cigarro, e mais para o final de sua vida só fumava o cubano Cohiba, especialmente Siglo II, que custava mais de 50 reais cada. De acordo com Sérgio Frias, Eurico era um homem de poucas manias, mas as fazia com muita intensidade.

- Eurico era viciado em fumo e mesmo com o câncer não deixou de fumar. Além disso, ele não comia saudável. Nem sempre foi gordo, mas se tornou um. Algo que ele prezava muito também era a religião. Rezava muito, tinha uma relação muito grande, principalmente, com a Nossa Senhora de Fátima, que ele inclusive homenageou da maneira que foi possível, inclusive à frente do Vasco em várias ocasiões e aniversários da santa. Isso fez com que o clube tivesse realmente uma visão muito focada e ligada as questões religiosas, principalmente ao catolicismo - lembrou o escritor.

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